Há uma grande discussão a respeito da classificação sobre as características de diversos exercícios/modalidades.
A classificação fisiológica mais conhecida que determina a característica do esforço de acordo com o tempo de duração é importante, porém não totalmente aplicável a modalidades acíclicas como o caso do futebol. Se levarmos em consideração esta classificação, diríamos que o futebol é uma modalidade aeróbia pura, pois sua duração é de 90 minutos, com 2 tempos de 45 minutos, o que nos remeteria a pensarmos de metabolismo de ácidos graxos e baixa intensidade.
Basta olharmos dados recentes desta modalidade ou mesmo assistirmos uma partida para perceber que as velocidades e intensidades dos esforços são altos. A distância média percorrida é de 10,8km, porém é possível ver frequentemente em partidas da Champions League, Premier League em que a televisão divulga distâncias percorridas de 12km.
APROXIMANDAMENTE 88% AERÓBIO E 12% ANAERÓBIO DE ALTA INTENSIDADE (Sherpard & Leatt, 1987; Reilly 1996). Estes dados são de mais de 10 anos, e a evolução da preparação física mudar essa relação. Gradativamente ao longo dos anos vemos a quantidade de “sprints” aumentarem, mudando portanto essa relação.
Outro parâmetro fisiológico que nos chama a atenção e nos mostra que futebol, assim como outras modalidade acíclicas não pode ser considerada uma modalidade aeróbia pura é o lactato. Ao termino de uma partida é encontrado concentrações entre 12 a 17 mMols/L.
Com esses dados fica aquela pergunta, mas se o futebol tem mais de 80% de componente aeróbio, por que não podemos considerar como uma modalidade aeróbia? A resposta é mais simples do que imaginamos. Porque é uma modalidade de resistência intermitente, em outras palavras, os sistemas energéticos estão em constante alternância. Poderíamos definir também em outras palavras como uma modalidade de resistência de força rápida ou seja, suportar cada vez mais e recuperar cada vez mais rápido a quantidade de “sprints”, saltos, cabeceios, chutes realizados durante uma partida.
Essa alternância de vias energéticas faz como que ao decorrer da partida haja cada vez menos uma capacidade de remoção do lactato produzido pelos movimentos de alta intensidade.
De acordo com a explicação supracitada, quando olhamos para um sistema aeróbio ou um treinamento de resistência, esta visão deve ser direcionada a potência aeróbia, pois quanto mais rápido conseguirmos remover o lactato ou em outras palavras voltar ao sistema aeróbio, mais poderemos suportar a esforços de alta intensidades que são os movimentos determinantes para o resultado de uma partida.
Entendendo agora a parte metabólica e como direcionar o treinamento desta modalidade, podemos analisar os conteúdo do treinamento. Na minha opinião, e já li no livro do Mourinho que é uma das maneiras que se pode determinar o grau de exigência, é a quantidade de mudança de direção e a velocidade raciocínio e tomada de decisão. Por estes motivos também é que um jogador apesar de ter um VO2máx próximo a de maratonistas ( 55 a 70 mL/kg) possui adaptações diferentes e não vejo sentindo em treinar correndo apenas em volta do campo.
A densidade de uma partida é de: DESCANSO-BAIXA INTENSIDADE-ALTA INTESIDADE = 3:16:1 (Barros, 2004). Apesar de apresentar uma densidade baixa, uma das melhores maneiras de se preparar um atleta de futebol, do ponto de vista metabólico é modificar e trabalhar com um aumento gradativo dessa densidade. Alguns autores como ARGEMI, sugerem densidade de 1:2 (esforço:descanso), 1: ½ e 1:1, sempre em intervalos de 6 segundos a 30 segundos de execução, pois vale lembrar que resistência intermitente nada mais é do que resistência de força ou movimentos rápidos. Há um outro autor, TABATA que mostrou em seu estudo uma relação de 1: ½ com 20 segundos de esforço por 10 segundos de descanso e uma melhora de 14% no pico de VO2máx e 28% da capacidade anaeróbia.
Como citado a pouco, essas quantidades de aceleração e desaceleração, mudanças de direção, tanto exigidas durante uma partida como na maneira de se treinar exige estar muscularmente equilibrado, exigindo de cada músculo o máximo que se pode solicitar e da maneira mais correta, aumentando assim o desempenho e na economia de energia. Músculos pouco ativados ou desequilíbrios de força entre musculaturas fazem com que duas coisas aconteçam:
1- Risco de lesão
2- Sobrecarga em outras musculaturas, perdendo rendimento, aumentando fadiga e aumentando o item anterior.
Este trabalho de treinamento funcional dentro do futebol será tema para um próximo artigo.
Por: Renato Hiroshi Tenguan
Twitter: @rtenguan
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